segunda-feira

Vasculho no mais profundo dos meus sonhos, dou por mim a recordar um pesadelo, o meu pesadelo.Sinto-me sozinha e irrequieta, escondida do mundo, das pessoas, rodeada de livros e objectos inanimados. Não gosto deste meio, é nele que começo a pensar, a trazer ao de cima os fantasmas da minha vida, trago as piores memórias que recordo, trago as amarguras que a vida já me revelou, começo a ler para tentar esquecer, mas quando reparo já é tarde, voltei a recordar o pesadelo. Escuridão é tudo o que me rodeia, tudo o que recordo, é a minha luz ao mesmo tempo.Gosto dela, ela é que me trás as verdades, traz-me a mais pura das realidades, que juntamente com o silêncio traz-me a maior das harmonias, em que me consigo concentrar, pensar, reflectir e por fim chorar.
Relembro tudo, e só depois de vasculhar, descubro. Com ninguém posso contar.Corro para fugir às memórias, mas depressa tropeço, volto a relembrar, continuo a correr, caiu de novo, ajoelhando-me ao chão, uma mancha de sangue começa a sair do meu corpo, observo, reparo no que era, o meu joelho, uma ferida aberta, mas nem o sofrimento, o ardor que ela me está a causar é comparável á dor de viver, á dor que a vida me trás.Pois a ferida, rasga, sangra, até pode infectar, mas num piscar de olhos ela sara rapidamente. Com a vida é o contrario, acontece, magoa, infecta e não desinfecta, tentamos esquecer (desinfectar) mas nada. E ela ali permanece, a ferida na nossa vida, intacta, aberta, exposta a milhares de infecções e a mínima lembrança, zás, ela volta a sangrar, sem nunca mais parar.

{A vida é cruel.}