terça-feira

É tarde, já me fui deitar.

Se alguma vez um estranho se aproximar e te perguntar se já alguém gostou verdadeiramente de ti podes levantar a cabeça e responder, sem qualquer tipo de dúvida ou receio, que sim.
Que já gostaram mesmo de ti. Que já gostei mesmo de ti.
Gostei, de ti. Aproveita e diz também que não foste capaz de me segurar.
Que permitiste que o tempo me levasse sem sequer teres tido coragem de puxar da tua espada para tentar defender a tua honra, a nossa honra.
Deixaste que os ponteiros do relógio varressem o nosso espaço, consumissem o nosso ar.
Não lutaste. Diz-lhe que, provavelmente, deitaste fora uma oportunidade de seres feliz, não para sempre, porque a eternidade é um conceito inexistente no dicionário da minha, da nossa realidade, mas momentaneamente, agora, hoje.
Podes contar a história de como as tuas incertezas e as tuas meias verdades conseguiram esmigalhar em mil pedaços a última réstia de amor que eu sentia por ti. Explica-lhe, com os detalhes que me deves, a forma como arrancaste os meus sonhos de mim.
Como me fizeste desacreditar em todos os XY que fui encontrando nas estradas do meu caminho. Mostra-lhe como já me fizeste desejar nunca te ter conhecido. Como me roubaste o coração para o usares como abrigo das tuas idas e vindas.
Como o gastaste, secaste. E sim, não te esqueças de mencionar as tuas idas e vindas.
Conta-lhe como me tomaste como garantida. Não prestaste atenção enquanto fui dando passos em frente, pequeninos, mas tantos que se tornaram enormes.
Foste tu quem deixou que assim fosse.
Também não notaste enquanto fui olhando para os lados para não ser atropelada novamente pelos teus homónimos, homógrafos, homófonos.
Por todos aqueles que tal como tu não sabem saborear a certeza do momento. Não reparaste enquanto fui fechando as portas, as janelas, os postigos e todos os buraquinhos que te permitiam voltar sempre que querias.
Não viste, ou não quiseste ver.
Não lutaste, ou não quiseste lutar.
Não te impuseste, não te esforçaste, não (me) quiseste.
Vai, conta-lhe e quando acabares vem-me dizer como correu. Mas hoje não, é tarde e já me fui deitar.

domingo

É quase a mesma coisa que te sentires gelada e sólida que nem uma pedra. Quase, quase o mesmo que perderes os sentidos quando mais precisas de encontrar uma saída ou o mesmo que precisares de uma bússola em tempestade e por azar (ou sorte), por descuido (ou cuidado a mais), teres deixado essa mesma bússola cair ao mar. É quase o mesmo que te sentires a murchar da mesma maneira que as flores o fazem quando se sentem fracas.. Mas é assim que cresces, e é assim que aprendes que as bonitas histórias são portadoras de horríveis capítulos que te fazem chorar. Porque toda a história feliz, tem uma bruxa má, um príncipe encantado, uma princesa que sofre e no fim, acaba tudo por ficar bem.
Lembra-te: sempre que passares por um desses maus capítulos sorri, sorri porque o teu final feliz, perto ou longe, um dia irá chegar. E quando esse chegar vais sorrir de satisfação, por saber que mesmo sendo sofredora e com os olhos inchados, foste também corajosa o suficiente para passar por cima de tudo o que se atravessava à tua frente com um bonito sorriso nos lábios. Não desistas, da mesma maneira que uma larva sofre para passar a borboleta, tu também vais ter que sofrer para passares de menina a mulher, é impossível escapares. E no fim, olha ao espelho e vais reparar "que linda mulher". Acredita em ti, ganha força e segue até ao fim.
Porque sim, tu ÉS forte. (eu sou forte)
Não te enganes. Por muito que penses que és tu quem mandas no teu próprio corpo, enganas-te.
É o teu coração que porta consigo a capacidade de monitorizar cada passo que dás, manda em ti e na tua própria vontade.
O problema consiste no momento em que tu queres escolher o certo mas o coração, este pequeno sacana, parece sempre escolher e optar pelo errado. E para piorar a situação, o errado nunca vem só.
E quando tentas ser tu a comandar o teu corpo, o pequeno sacana já não o deixa. Acomodou-se no seu pequeno cantinho maléfico e ri, ri de felicidade por ter a capacidade de te fazer inchar os olhos em pouco tempo.
A questão está em esqueceres todos os medos, ou de outra forma dizendo, passares por cima de todos eles. Contrariares cada lembrança que durante a noite te vem à cabeça, jogares com elas um jogo psicológico em que tens que ser confiante, tu vais sair vitorioso.
Porque na maioria dos casos, vencer não significa ganhar, a questão está em tentar. Tentares com todas as tuas forças por aquilo que achas valer a pena, e no fim poderes afirmar: eu dei de tudo para resultar.
Eu todos os dias tento, por enumeras razões é certo, mas há sempre alguma à qual demonstramos mais empenho e dedicação, há sempre alguma que te faz sorrir como se o sol se abrisse só para ti. Há sempre alguma, que vale mais a pena do que as outras.
E essa razão, respira como todos os outros seres-vivos.
Essa razão, faz-me pensar que vale a pena deitar para trás um milhão de fantasmas escondidos no meu sótão. Essa mesma razão que me consegue arrancar um sorriso mesmo sem tentar fazê-lo.
E mais uma vez, encontras-te preso na teia a qual receavas. Protegias-te com repelente para não voltares a ser apanhado como uma mosca sem saída nas teias de uma aranha qualquer. Pois bem, não chores, sorri por ter acontecido. Sorri porque finalmente, conseguiste dar uma chance a ti mesmo.
Hoje, eu sorriu com toda a vontade e espontaneidade, mesmo que o amanhã me possa fazer perder esse sorriso. Mas o que importa realmente, é que eu tento, e todos os dias acredito que vale mais do que a pena sentir as tais borboletas na barriga (aquelas que tu já conheces).



quinta-feira

tic-tac, tic-tac ... tic-tac.

Chegaste a um ponto em que tens à tua volta cerca de dez mãos dispostas a darem-te ajuda, a ficarem contigo, sem medo de todas as vezes que terão que tropeçar enquanto estão contigo. Porque eles sabem, eles sabem a confusão em que te tornaste.
Misturas sentimentos, esperas palavras e conversas que sabes que nunca serão proferidas, anseias por um sinal que te faça seguir em frente, por uma voz que te convença de que está tudo bem. Esperas pelo amanhã como um novo dia, aguardas um sol que te aqueça fisicamente mas essencialmente, que te aqueça o coração.
Esperas, esperas e esperas, tanto esperas que desesperas.
Ouves o tic-tac do relógio a cada minuto que permaneces em casa, escutas a tua própria respiração com tanta atenção que chegas até a decorar em quantos segundos ela costuma intervalar normalmente, o batimento do teu coração chega até a fazer-te confusão. Chegaste a um ponto em que prestas atenção a tudo, mas ao mesmo tempo não prestas atenção a nada.
Tu queres prestar atenção a tudo para fugir aquilo que é a rotina dos teus pensamentos, queres sair da tua zona de conforto mental quando sabes que esta mesma zona já não é mais de conforto, mas sim de inquietação. Mas quanto mais procuras por uma fissura na janela que se encontra ao teu lado, quanto mais procuras por uma porta semi-aberta, mais sentes a vontade que tens de escapar.
É exactamente a mesma coisa no que se trata a escapatórias mentais, quanto mais tentas esquecer alguma coisa, mais a lembras na medida em que, cada vez que tentas arranjar uma solução e pensas ter conseguido finalmente atingir o teu objectivo, mais te recordas o porque de a teres procurado. E aí? Aí vais saber que te estás a enganar a ti mesmo porque não é a fugir dos teus problemas que vais abrir caminhos para a frente, só os vais fechar cada vez mais.