segunda-feira

PS. I love you

"Não preciso de ti", embrulho o teu nome num papel, esmago-o, amando-o contra a parede, faço uma bolinha dele e mandando-o pelo janela, deixo que ela caia lentamente no chão, pare e imobilize.
Com o papel foram juntos todos os sentimentos que deixas-te para trás, toda a angustia e o medo. Todas as vezes que não me levantei quando devia, para me sentar na minha cama num soluçar e num choro constante que parecia não acabar, e aqueles minutos que me fazias ficar assim pareciam ser os mais longos, transformando-os em horas; Todas as vezes que me quis recompor, mas voltou a acontecer; Todas as vezes que não tinha forças para caminhar; Todas as vezes que fechava os olhos e te imaginava comigo; Todas as vezes que sorri ao recordar, embora sabendo que era passado; Todas as vezes que me desde acessos de criatividade, e me fizeste escrever como nunca, com um sentimento inacreditável; Todas as vezes que TU estavas presente, ou seja, sempre.
Apercebo-me facilmente, e corro, com pressa e desajeitadamente. Destranco a porta e abro-a, desço as escadas a correr, tropeçando e caindo logo no primeiro lance. Força, penso para mim, e volto a levantar-me, ainda que desajeitada consigo chegar á entrada, sorrio com um gosto a vitória e saiu pela porta. Agachando-me lentamente tentando não cair, estendo o meu braço e alcanço a bola de papel, a minha mão treme como nunca visto, um tremer constante e até impressionante, largo o papel e penso não posso ceder. Mas é mais forte que eu, não te consigo deixar partir. Volto a agarrar e sinto uma lágrima escorrer pela minha cara, limpo-a com a minha mão ainda a tremer, subo as escadas, agora mais aliviada.
Abro o papel e marcas de água surgem então nele, o choro derrama mas o teu nome parece não se apagar, deito a cabeça sobre a almofada, com o papel amachucado de baixo dela, e ali adormeço.

Não te consigo largar, "PS. I love you".

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